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No dia 10 de abril de 2023 o prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão Carneiro, inaugurou sua pirâmide – um viaduto de 380 metros sobre a Av. Nicomedes Alves dos Santos. Não um viaduto qualquer: o maior da história do universo, ou melhor, de Uberlândia.

A obra, que custou R$ 14 milhões aos contribuintes, foi feita para que motoristas que trafegam pela Av. Nicomedes Alves dos Santos possam passar por cima da Av. Vinhedos, cruzamento que a expansão da cidade em direção ao sul transformou num incômdo perigoso. A obra era necessária? A resposta é sim, embora houvesse muitas outras mais urgentes e relevantes, como a construção de piscinões na Rondon Pacheco ou de moradias populares para a população sem teto que cresce a olhos vivos nas diversas ocupações.

O viaduto é dado como uma grande conquista da atual administração em beneficio de todos os que vivem nos condomínios de luxo daquela região, estudam nas universidades privadas ou querem passear no Uberlândia Shopping. Não é difícil encontrar elogios a ele no Instagram dos famosos, fascinados especialmente com suas dimensões. Quem se informa só pelas redes sociais corre o risco de achar que inauguramos a nossa ponte Rio-Niterói.

Mas o viaduto enorme tem um defeito grave, invisível para boa parte das pessoas que se valem dele: não tem faixa de pedestre nem ciclovia. Antes de ingressar no viaduto, o motorista que segue em direção ao Centro vê uma placa que proíbe o trânsito de pedestres, ciclistas e carroceiros.

Ciclistas, pedestres e carroceiros têm que seguir por baixo do viaduto. Por incrível que pareça, apesar da obra de milhões, a Prefeitura teve que gastar mais algumas dezenas de milhares de reais para instalar semáforos, faixas de pedestres e iluminação na Av. Vinhedos. Se tivesse sido melhor concebida – se tivesse alças de acesso, por exemplo – não geraria a interrupção do tráfego na Av. Vinhedos. Essa interrrupção teve que ser feita para que os esquecidos possam desafiar a sorte na travessia da via, enfrentando o desrespeito generalizado dos motoritas.

Observado o que dispõe o Plano Diretor — desatualizado — da cidade, as obras não poderiam ter sido construídas sem esse tipo de benfeitoria. O Art. 21, que fixa diretrizes da política de mobilidade urbana , estabelece que a Prefeitura deve “fomentar o uso de transportes coletivos; humanizar os trechos rodoviários ; fomentar o uso da bicicleta; fomentar o deslocamento a pé e promover a eficiência energética, um sistema de transporte sustentável”. Nada disso ocorreu.

O desrespeito ao Plano Diretor é marca registrada da atual administração. A Prefeitura raramente se lembra de pedestres e ciclistas, quando desenha suas obras mais caras. É um governo para quem tem carro – ou seja, para a parcela mais rica da população. O Viaduto Alfredo Júio Rezende, por exemplo, inagurado em setembro de 2022, padece dos mesmos males. Tem 215 metros de extensão por 14,20 metros de largura, suficientes para quatro faixas de rolamento exclusivas para veículos motorizados. O espaço destinado a pedestres e ciclistas é zero absoluto. Eles continuam tendo que enfrentar motoristas e motociclistas que não respeitam sinal de pedestres e parecem desconhecer o Código de Trânsito Brasileiro na travessia da Av. Rondon Pacheco.

De novo a pergunta: era uma obra necessária? Novamente a resposta: sim, era uma obra necessária. Mas era uma obra prioritária? Será que não havia nada melhor a fazer com o dinheiro? E mesmo que não houvesse, por que esqueceram os cicistas e pedestres? Por que não foram respeitadas as determinações do Plano Diretor? Por que a Prefeitura sempre desconhece as regras que deveriam orientar a maneira como o Poder Público investe o dinheiro dos munícipes?

Se você tiver uma resposta para alguma dessas perguntas, por favor, deixe aqui embaixo na área de comentários.

One Response

  1. O túnel da Getúlio Vargas tem problema semelhante, e digo que ainda mais grave, quando se entra nele na direção bairro-centro, os motoristas ficam completamente cegos por alguns segundos. Qualquer tipo de parada no túnel, um pneu furado que seja, vai gerar acidente fatais.

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